Seis poemas de seis italianos
Traduções de Maurício Santana Dias
Sandro Penna (1906-1977)
Sob o céu de abril minha paz é incerta.
Agora os verdes claros se revolvem
sob o vento volúvel. Ainda dormem
as águas, mas como de olhos abertos.
Meninos correm na relva, e parece
que o vento os dispersa. Porém disperso
é só meu coração que guarda um brilho
vívido (ah, juventude) de suas
brancas camisas impressas no verde.
:
Sotto il cielo di aprile la mia pace
è incerta. I verdi chiari ora si muovono
sotto il vento a capriccio. Ancora dormono
l’acque ma, sembra, come ad occhi aperti.
Ragazzi corrono sull’erba, e pare
che li disperda il vento. Ma disperso
solo è il mio cuore cui rimane um lampo
vivido (oh giovinezza) delle loro
bianche camicie stampate sul verde.
§
Giovanni Giudici (1924-2011)
A uma jovem sindicalista
Falarão de Beatriz, de Laura, de Eleonora
D’Este e Juliette Récamier,
De Jeanne e Madame Sabatier
E de muitas outras, ora.
Mas eu aqui só escrevo de ti,
minha charmeuse, minha encantadora:
Séculos de tratado sobre o erotismo
não valem sua risada sonora.
:
A una giovane sindacalista
Parleranno di Beatrice, di Laura, di Eleonora
D’Este e Juliette Récamier,
Di Jeanne e Madame Sabatier
E molte altre ancora.
Ma io solo qui scrivo di te,
Mia charmeuse, mia encantadora:
Secoli di trattati sull’erotismo
Non valgono la tua risata di gola.
§
Fernando Bandini (1931-2013)
O último avião
Nossa vida não está mais nas tramas
tecidas ao redor da casa ou poucas ruas mais além:
um leque de anedotas que o ar
soltava dos dedos e depositava devagar
nas hortas avermelhadas de ascalônia
onde um dia vingava uma pequena história.
Uma nuvem arrancada ao céu pelo vento
lambe com suas bordas esfiapadas
velhas periferias onde brotam morangos
que somente os sapos adoram.
Sabemos o que acontece _e acontece
apenas em outros lugares.
O último avião que sobrevoou as casas
foi o Macchi de nossa infância,
mas ouvimos seu estrondo
para lá das colinas, muitos anos atrás.
:
L’ultimo aereo
La nostra vita non è piú nelle trame
tessute intorno a casa o poche vie piú in là:
un ventaglio di aneddoti che l’aria
schiudeva tra le dita, depositava adagio
negli orti rosseggianti di escallònia
dove un giorno attecchiva una piccola storia.
Una nube strappata al cielo dal vento
lambisce coi suoi orli sfilacciati
vecchie periferie dove sbocciano fragole
di cui sono golosi solo i rospi.
Sappiamo quello che accade — e accade
soltanto altrove.
L’ultimo aereo che ha sorvolato le case
è stato il Macchi della nostra infanzia,
ma ne abbiamo sentito lo schianto
dietro le colline molti anni fa.
§
Giorgio Caproni (1912-1990)
Para alguns
Podem dizer de nós
_se isso lhes dá prazer_
que somos renunciatários.
Que não conseguimos manter
o passo com a História.
As frases feitas _sabemos_
são a sua glória.
Nós, nós não a contestamos.
Estar em desarmonia
com a época (rumar
contra os tempos em favor
do tempo) é nossa mania.
Cremos no anacronismo.
No raio. Não no culto ao futuro.
:
A certuni
Dite pure di noi
- se questo vi farà piacere -
che siamo dei rinunciatari.
Che non riusciamo a tenere
il passo con la Storia.
Le frasi fatte - sappiamo -
sono la vostra gloria.
Noi, noi non ve le contestiamo.
Essere in disarmonia
con l'epoca (andare
contro i tempi a favore
del tempo) è una nostra mania.
Crediamo nell'anacronismo.
Nel fulmine. Non nell'avvenirismo.
§
Davide Rondoni (n. 1964)
Face
e asfalto
(e muitas luzes
muitas vozes de telejornais)
se acendem, passam
na noite os faróis
morrendo docemente –
e nenhuma piedade nos mil olhos
pelos bares ou de casa
(em que se tornou a casa, meu Deus
como a deixamos, como aí dentro
crescem a solidão e as crianças).
Face
e muro
(e os passantes na alameda)
mas ainda piedade em seus olhos
atrás do vidro do carro
que sai do portão em via Porpora
(aonde vai, fique se puder ficar
assim ainda há Jesus, o azul
do céu irrompe das arquibancadas) –
como é infinita Milão e como é nada
que tudo acende e tudo incorpora
quando é fim de ano
e nela é possível perder-se
não por ignomínia
mas apenas por desespero.
:
Faccia
e asfalto
(e molti lumi
molte voci di telegiornali)
si accendono, passano
i fanali nella sera
morendo dolcemente –
e nessuna pietà nei mille occhi
dai bar o da casa
(cos’è diventata la casa, Dio mio
come la lasciamo, come ci crescono
dentro la solitudine e i bambini).
Faccia
e muro
(e gli andanti sul viale)
ma ancora pietà nei tuoi occhi
dietro il vetro dell’auto
che esce dal cancello in via Porpora
(dove vai, resta se puoi restare
così c’è ancora Gesù, il blu
del cielo dagli spalti Irrompe) –
com’è finita e com’è niente Milano
che tutto accende e tutto incorpora
quando è fine d’anno
e ci si poù smarrire
non per ignominia
ma per sola disperazione
§
Giovanna Frene (1968)
Petrarquesca
Fragmentos esparsos de bem-aventurança não
mais os rearranjarei na estação deserta
o deserto mais espantoso no entanto está aqui
em minha cabeça estéril de ilusões ilustres
realmente não tenho outros desejos acredite
senão o de entupir o estômago e explodir
de encher-lhes a cabeça e pedir a todos
me deixem ir
(só o tempo de contar quantas são as folhas
uma a uma...)
Estou mais viva nesta página
do que na vida
:
Petrarchesca
Sparsi frammenti di beatitudine mai più
vi ricomporrò nella stazione deserta
il deserto più sbigottito eppure è qui
dentro la mia testa infruttuosa di illustri illusioni
no hon desideri diversi veramente credetemi
che non riempirmi lo stomaco e crepare
riempirvi la testa e chiedere a tutti
de lasciarmi andare
(giusto il tempo di contare quante sono le fronde
una per una...)
Sono più viva su questa carta
che non nella vita